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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Olá!


A tua solidão instiga minha saliva, meu corpo e minha alma. É uma vontade aguda de ouvir os teus gritos calados toda vez que te vejo passar. Mas passar aonde, se ninguém nunca antes te viu? Talvez você seja só mais uma parte especial de algum sonho. Uma fantasia de ser perfeito, ou alguma miragem vinda daqueles corredores desertos.
A vontade é de pular, mergulhar, navegar em meio aos teus cabelos compridos e lençóis. Me encontrar em ti, e finalmente ouvir o teu verbo nunca antes escutado. Tenho vontade de ser a única a sentar ao teu lado nesses dias de chuva, e finalmente entender o motivo desse teu olhar assustado. Tenho vontade de seguir teus passos e invadir seu mundo, sua vida, sua mente... enquanto daqui te aguardo, dizendo "olá".

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Maria do Carmo


6 de dezembro de 1924. Mais um choro, mais uma vida. 
Ali nascia Maria do Carmo, a terceira filha de Madalena, que era a cozinheira analfabeta que havia fugido de casa para viver sua grande história de amor com Osvaldo. Eram felizes vivendo ali, no sul de Minas Gerais. 
Maria do Carmo cresceu, apaixonada pela vida e pelo vermelho. Frequentava todas as missas de domingo e fazia promessas todos os anos durante a semana santa. Levava uma vida feliz. Aprendeu a ler, escrever e fazer contas. Queria ser professora. 
Andava a cavalo para poder sentir os ventos nos cabelos e nunca teve paciência para bordar seus vestidos.
Os anos foram passando e, com isso, veio Antônio, com quem se casou. Desse amor, vieram seus sete filhos e doze netos. De início, a casa enchia em todos os finais de semana. Depois, só nos natais... mas tudo mudou quando dona Madalena faleceu devido a uma parada cardíaca. 
A casa não enchia mais, Antônio adoeceu. Maria do Carmo descobriu a diabetes e, quando menos esperava, o seu mundo perdeu a forma e as cores. A falta de visão não a permitia mais enxergar o vermelho. A tristeza, acompanhada de alguns tumores, levou o Antônio para longe de seus cuidados. 
Agora, Maria do Carmo passava as tardes na companhia das musicas românticas do seu tão querido "Rei Roberto Carlos". Nenhum de seus filhos ou netos havia aparecido naquele mês. Ela só queria vê-los crescidos, ou senti-los quentes... mas já não podia. 
Foi quando, em uma dessas tardes, em outubro, aos oitenta e sete anos, voltou a enxergar. E, no final de todas as incríveis formas e cores, viu Antônio, junto de seus pais e irmãos tão amados. Maria do Carmo havia voltado a ver o vermelho... Maria do Carmo havia morrido.